quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O EVANGELHO PAGÃO DA ATUALIDADE


Introdução


a) Algumas compreensões são reivindicadas pelo tema. Precisamos nos perguntar sobre o que é paganismo e se ele é um fenômeno da atualidade.


b) Pagão é uma palavra latina. Origina-se na palavra paganus e significa aquele que vem do campo. Arriscam alguns lingüistas em deduzir que foi a palavra da religião cristã para descrever os diversos panteísmos das religiões de outras culturas. Ao adorarem os fenômenos da natureza como a deuses seriam assim chamados.


c) É uma expressão que surge nos primeiros séculos da era cristã. Provavelmente no IV século, período em que o cristianismo foi transformado em religião oficial no Império Romano.


d) Não podemos deixar de admitir que a expressão tem uma origem discriminatória, marcada pela fusão do cristianismo com as expectativas políticas de consolidação do Império. É preconceituosa porque chamar uma pessoa de pagã na tradição cristã era chamá-la de desgraçada, condenada ao inferno, sem Deus.


e) Na atualidade o termo paganismo foi deixado de lado pelo cristianismo tanto quanto sua prática original. Ninguém é chamado, pelo menos oficialmente, de pagão porque não foi batizado na igreja católica. Mas foi importado pelo discurso evangélico moderno para se referir às influências religiosas que não as judaico-cristãs.


f) Um evangelho pagão é como chamamos a pregação cristã fundada sobre uma lógica distinta da judaico-cristã. Que negue a compreensão da relação entre Deus e a humanidade que não seja a gratuita. De um Deus que ama ao ponto de se esvaziar de sua divindade para uma aproximação radical tanto quanto a providência de uma salvação completa para toda a humanidade.


g) Uma última observação a ser feita, talvez a mais assustadora e polêmica, é que o cristianismo é um evangelho pagão. O que nós chamamos de cristianismo, ou seja, a formação de seus ritos, doutrinas, a inserção de sacerdotes, tanto quanto o uso de templos são intensamente marcados por influências do tipo pagãs. Não só, também judaicas, mas fundamentalmente.


h) Uma boa sugestão de leitura é o CRISTIANISMO PAGÃO: ORIGENS DAS PRÁTICAS DE NOSSA IGREJA MODERNA de Frank A. Viola. Disponibilizado na internet em pdf gratuitamente.


i) Mas o fato a ser sublinhado aqui é que o cristianismo é influenciado em sua essência por correntes religiosas e filosóficas no decorrer dos séculos. E nem poderia ser diferente. Como qualquer corrente de idéias e práticas religiosas, o cristianismo é historicamente construído por diversas influências. Talvez as mais marcantes sejam o estoicismo e gnosticismo em seus três primeiros séculos.


j) O que podemos nos propor nessa conversa sobre “O Evangelho Pagão da Atualidade” é distinguirmos a lógica do evangelho de Jesus e a lógica de outras religiões, que aqui chamamos de paganismo pela ausência de um termo mais eficiente.


k) Que traços essa lógica pagã manifesta em sua influência sobre muitas de nossas práticas cristãs na atualidade?


1. UMA VISÃO MÁGICA DA VIDA.


1.1. Uma visão mágica dos acontecimentos é aquela que se recusa a enxergá-los como o resultado de processos históricos e naturais. Um processo histórico é aquele formado pelas decisões, valores, ideologias e culturas. Um processo natural é aquele formado pelos fenômenos da natureza.


1.2. Uma visão mágica os vê como a superfície apenas de um movimento espiritual. Sãos os espíritos ancestrais. São anjos ou demônios.


1.3. A resposta apresentada por quem vê o mundo espiritualizando-o é o de buscar ritos, frases, movimentos mágicos, que uma vez acionados podem interagir com os fatores espirituais é favorecer os que são capazes de manipulá-los.


1.4. Um bom exemplo disso é o encontro de Simão o mágico com Pedro e João em Samaria. (At 8)


1.5. A solução para os infortúnios da vida é aprender a manipular os ritos sagrados que prometem uma ação humanamente inexplicável.


1.6. Na prática evangélica há alguns exemplos dessas práticas: quebra de maldições, poder da palavra, demonização e exorcismo universais, ta amarrado, sangue de Jesus tem poder, nunca sair de casa sem orar e assim por diante.


2. A CULPABILIZAÇÃO UNIVERSAL.


2.1. A relação com Deus sempre parte do pressuposto da culpa. É preciso abrandar a ira de Deus através de ascese e ritos de autoflagelo.


2.2. A pessoa entra e sai da igreja com a sensação de dívida com a divindade.


2.3. Não dá para deixar de afirmar que a doutrina vaca sagrada do cristianismo do pecado original é fundada sob influência do estoicismo e gnosticismo. O corpo e os prazeres são iníquos e alma e os sentimentos religiosos são sagrados.


3. UMA RELAÇÃO SACRIFICIAL COM OS FAVORES DIVINOS.


4. A NOÇÃO DO DESTINO.


Por Pr. Elienai Cabral Júnior

No Circcuito de Idéias da Igreja Betesda Abolição.

São poucos os que ENTER


Metade dos cristãos digita os seus próprios comandos e pressiona a tecla Enter de Deus, na esperança de que Deus comece a fazer magicamente o que eles querem. A outra metade digita os comandos de Deus e aperta a sua própria tecla Enter, na esperança de começarem a fazer magicamente o que Deus quer.


A boa nova, a assustadora boa nova, é que Deus quer programadores, não usuários.


Ele espera que digitemos os nossos próprios comandos e apertemos a nossa própria tecla Enter e ainda assim – com toda a responsabilidade, todo o risco e mágica nenhuma – produzamos um mundo que promova a graça (ou seja, a beleza, o cavalheirismo e a criatividade) e honre a herança do seu idealizador.


Por Paulo Brabo

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A ANSIEDADE DE CADA DIA


“Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças; e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus”. Filipenses 4:6, 7

Certo homem foi ao médico, sentindo muitas dores por todo o corpo. Sendo solicitado que apontasse os lugares em que pareciam mais fortes, com o indicador ele passou a mostrar e a dizer:-


Ai! Dói aqui e, ai, dói aqui também doutor! Ai! Aqui também dói!


Ao final da consulta ele saiu com o dedo indicador engessado!


Fica difícil tomar remédio para dores que não sabemos definir. É muito ruim quando sentimos que há algo errado em nosso interior, embora não saibamos corretamente o que é. É como o bebê recém nascido que não sabe se exprimir. Apenas chorar. De madrugada!


Gosto desse versículo acima, porque ele joga alguma luz sobre a questão da ansiedade, grande incógnita para a raça humana. Logo no início já propõe que em tudo devem ser conhecidos os nossos pedidos diante de Deus. Algo como se aproximar de alguém para compartilhar um problema, tendo pleno conhecimento da situação.


Interessante observar que, apesar de conhecer o nosso coração, Deus espera que compartilhemos o que sentimos, reflitamos sobre o que realmente queremos, ou o que prioriza a lista das nossas angústias. Ouvi algo realmente importante essa semana sobre a Bíblia. O objetivo da Palavra não é revelar Deus a nós. Justamente o contrário. Revelar-nos a nós mesmos e, no processo, encontrarmos Deus.


Quando Paulo afirma que em tudo devem ser conhecidas diante de Deus as nossas petições, ele cria um ambiente não para Deus, e sim para nós, para encararmos a realidade a nosso próprio respeito - aquilo que realmente importa ou incomoda ou nossos corações. A cura da ansiedade é a confrontação honesta do que passa pelas nossas mentes, na medida em que confessamos sentir.


Quando Sigmund Freud lançou as primeiras luzes da psicanálise, não foi à toa que o processo terapêutico ficou conhecido como “talking cure”, ou seja, a cura por falar. Quando você fala, quando você desabafa, quando você excreta da alma aquilo que lhe incomoda, ocorre o inicio da cura, do alívio que você precisa para prosseguir. A oração, de fato, nos conecta com Deus. Mas, diferentemente das nossas deduções arrogantes, não é para que Deus se agrade de nós, e sim, para que nós nos percebamos Nele. Saber que ele está lá, perto da nossa voz, ouvindo sobre aquilo que ele já conhece a nosso respeito, traz alivio à nossa alma.


Coisa alguma e em tudo – A abrangência dos termos nos dá a dimensão do envolvimento que Deus disponibiliza para cada um de nós. Nada do que nos aflige deve ser esquecido. Nenhuma ansiedade deve escapar de ser confrontada, trabalhada, confessada aos pés de Jesus. Se afligir o suficiente para roubar um minuto sequer do nosso tempo, pode e deve ser compartilhada com Deus.


E a paz de Deus – O grande objetivo de Paulo não era o de desviar nossa atenção da situação presente. Pelo contrário, ele queria que a enfrentássemos, porém, de uma maneira mais consciente, mais clara e, consequentemente, mais objetiva. Sei exatamente o que está acontecendo e conto com todas as minhas possibilidades para solucionar.Penso que aí é que ocorrem os equívocos na interpretação do texto sagrado. Em nenhum momento o apóstolo está afirmando a solução imediata, ou sequer a solução definitiva de um problema. Não há regalias para a vida dos crentes sobre a terra. Não nos tornamos imunes às correntes de águas que arrastam carros no Rio de Janeiro, aos ônibus incendiados em São Paulo, aos diques arrebentados, cheios de lama no interior de Minas Gerais ou a onda de assassinatos em Vitória do Espírito Santo. O que os cristãos parecem querer na verdade é um salvo conduto pela vida, onde as dores são expulsas do nosso cenário e nunca mais saibamos o que é provação. Um conto de fadas parece ser mais próximo dessa realidade impossível que muitas vezes buscamos com a nossa espiritualidade.


Quero amar a Deus sem tirar os pés do chão da minha própria história, porque senão, vou acabar criando um mundo imaginário, de faz-de-conta, sem qualquer conexão com a realidade em que vivo. Deus torna-se assim um objeto de culto dissociado do verdadeiro eu que, por causa desse distanciamento, irá embrutecendo lentamente, até que Ele não signifique mais nada para mim.


Pela oração e súplica – O canal de comunicação fica definido: oração e súplica. Uma vez que são apresentados dessa maneira, fica clara a diferenciação entre termos. Orar é falar, contar, estabelecer contato. Não significa necessariamente pedir, reivindicar, reclamar ou, muito menos ainda, exigir qualquer coisa. Significa comunicar, estabelecer através da oratória, cientificar. Poderia trabalhar, dentro dessa linha de raciocínio, a oração como um boletim atualizado sobre o estado do paciente que se dirige a Deus.


A súplica surge a partir disso. Depois de relatar, conhecer com clareza o que me aflige tenho subsídios para suplicar o favor do Senhor para tal situação. Tenho a impressão de que acontece mais ou menos como nós nos relacionamos com nossos filhos. Eles se aproximam e choram, às vezes até bem mais do que falam, e nosso papel é o de ajudá-los a coordenar as idéias, de modo a que eles mesmos consigam compreender realmente o que os está incomodando.


Geralmente, a simples constatação clara do problema já traz em seu bojo a solução. Quando as coisas ainda estão emaranhadas, confusas, sem começo e sem final, temos a tendência de acreditar que os nossos problemas são muito maiores do que de fato são. Percebe-los corretamente é, sem dúvida alguma, o começo da solução.


E A PAZ DE DEUS – Junto ao alívio produzido pela descoberta do cerne da nossa angústia, vem também a constatação do lugar onde isso se deu. Aos pés do Senhor, cuja presença suave nos traz paz. Começo a entender que estar ao lado do Pai faz toda a diferença. “Tenho-vos dito essas coisas”, disse Jesus, “para que em mim tenhais paz”.


QUE EXCEDE A TODO ENTENDIMENTO – Talvez seja essa a razão porque tal paz excede a nossa capacidade de compreensão. É difícil compreender alguém que, em meio a grandes dificuldades e lutas, consegue manter um espírito sereno, um controle tranqüilo sobre as coisas. Extrapola a nossa compreensão tal comportamento.


GUARDARÁ OS VOSSOS CORAÇÕES – O rei Salomão nos ensina que é do coração que procedem as saídas da vida. Quando Paulo nos diz que a paz de Deus guardará os nossos corações, ele nos estimula a pensar nas atitudes refletidas, nos passos estudados sem precipitação e, consequentemente, nas escolhas feitas de uma forma madura. É difícil para alguém que tem o controle da situação, agir de forma desorientada, precipitada. Só dos mais alterados, nervosos e assustados é que esperamos tal atitude.


E OS VOSSOS SENTIMENTOS – Tão importante quanto fazer alguma coisa é por que fazer. Qual a real motivação que me faz escolher isto ou aquilo? Quais as intenções do meu coração quando optei por este caminho em detrimento daquele? Se eu de fato estiver em paz, não me pautarei por sentimentos revanchistas e vingativos. Não me deixarei adoecer por atitudes menores que o padrão adotado por mim. Meus sentimentos serão verdadeiros, autênticos e destituídos de rancor. Por quê?


EM CRISTO JESUS – Porque todas essas manifestações de paz em meu interior fluirão a partir de Cristo. Não há sombra em Jesus. Não é possível me aninhar em seu abraço de paz e tentar responder ao mundo com rancor. O caráter de Cristo é o grande alvo da minha caminhada de fé. É por isso que terei bem guardados o meu coração e os meus sentimentos nele.


Onde está aquela ansiedade que estava aqui?